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CARTA AO ENCARREGADO DE EDUCAÇÃO DO PAI NATAL

13-01-2016 13:55

 
O psicólogo Eduardo Sá na minha perspetiva dá sempre um excelente contributo para a forma como vemos e lidamos com as crianças. Portanto resolvi publicar alguns artigos feitos por ele. Estes artigos foram encontrados em várias páginas da Internet que mencionarei no final porque poderão ter algum interesse para os leitores.
 

Excelentíssimo Encarregado de Educação do Pai Natal,

 

Escrevemos-lhe, em nome do conselho de turma do seu educando, para manifestar a mais profunda preocupação pelo comportamento que ele tem manifestado em contexto escolar, com tudo o que isso tem trazido de advertências da nossa parte na respetiva caderneta do aluno. Pelo que supomos, estará sempre em viagem, já que o seu educando, quando o interpelamos a propósito de Si, nos dá a entender que estará "em toda a parte". Todavia, é com imenso pesar que não temos visto devolvidas as nossas mais sinceras apreensões em relação ao lado saltitante da atenção do seu educando, inscritas na respetiva caderneta do aluno. Efetivamente, embora ele manifeste uma alegria, quiçá, invejável - somos da opinião que um tal humor, tão contagiante e desmedido, possa descentrar os colegas da magna tarefa de aprender. E, pior - por mais que, tecnicamente, ele não perturbe a turma - receamos que favoreça alguns défices de atenção de outros alunos, mais compenetrados, que convivem de forma dolorosa com pessoas pouco "certinhas", como o seu educando, outrora descritos como "cabeças no ar". Aliás, muito nos tem inquietado esta tendência bem-disposta que ele não deixa de manifestar, havendo, mesmo, quem pergunte, aqui na comunidade educativa, que variante de metilfenidato de anfetamina ele tomará todos os dias, porque não só aprende sem dificuldades como, para além do mais, parece "voar", sempre que um apelo, uma dúvida com mais arestas ou um simples problema lhe são colocados.

 

Há, todavia, no seu educando, uma irreprimível tendência para uma paixão intensa com que se dedica a uma qualquer tarefa, parecendo-nos a nós, conselho de turma, que estaremos em presença de um hiperativo numa variante que mais o aproxima da proatividade, e que surge muito em alunos que, de forma incansável, se envolvem nas matérias escolares e nos seus sonhos, tudo ao mesmo tempo, e que, pela vida fora, mesmo quando têm um relação dolorosa com a escola, se transformam em inequívocos empreendedores.

 

Refira-se - a montante - que, embora nos sensibilize o lado atilado e asseado do seu educando, nos inquieta a forma como ele surge em contexto escolar, insistindo em vestir de vermelho, todos os dias, quer na sala de aula como no âmbito da respetiva educação física. Ora, por mais que tenhamos tentado discernir se isso deve ao clube do seu coração - se bem quem não seja visível uma águia, ou uma pantera negra sequer, estampados no vermelho-Natal da sua roupa - e se bem que o tenhamos vindo a sensibilizar para a benevolência do uso de uniforme (mas, de preferência, o da nossa instituição!), a sua obstinação em relação ao gorro, às calças e ao casaco vermelho é tal que nos deixa a todos quase sem argumentos, se bem que haja cada vez mais vozes que, insistentemente, reclamem por medidas disciplinares. Surgiu, aliás, há pouco, a proposta, sobre a qual iremos meditar, de punir este ato de indisciplina com atividades cívicas como, por exemplo, cuidar de crianças. Mas parece-nos que isso seria interpretado por ele como uma atividade lúdica (como, habitualmente, parece ser levado a entender as nossas repreensões). A seu tempo, iremos ponderar sobre o formato de medidas repressivas e penalizadoras que o tornem mais próximo dos seus outros colegas... mais "normais". Temos, todavia, hesitado noutras medidas disciplinares - como uma suspensão, por exemplo - por recearmos que ela fosse sentida como se fosse "o céu". Sobretudo depois de, há não muito tempo, o seu educando ter ido de castigo para a biblioteca - que nos pareceu ser o local de punição, por excelência, para os alunos para quem a fantasia carece de limites e de uma "gramática" muito própria - retirando daí benefícios de leitura que um aluno não devia considerar. Para mais, quando está de castigo!

 

Seja como for, queríamos pedir-lhe que sensibilizasse o seu educando em relação ao tom e à forma, pouco urbanos, do seu riso. Rir de boca aberta, com estrondosos "Oh! Oh! Oh!", se bem que sejam expressões de espanto que nos sensibilizem, não se afigura como uma atitude com o seu quê de cavalheiresco. Acresce, se nos permite, que - porventura devido à discrepância de idade entre o seu educandos e os seus colegas - seria de esperar que a comunidade escolar encontrasse nele um tutor, digamos assim, para os "coleguinhas" mais jovens, e não tanto um chefe de turma que, por vezes, se torna desconcertante - mesmo em função de toda a nossa benevolência - que põe os colegas em alvoroço quando lhes fala de presentes e lhes conta histórias (muito pouco reais, diga-se!) de encantar.

 

Por mais que nunca questionemos a bondade das avaliações escritas e dos exames, de modo geral, somos, amiúde, confrontados com pequenas confusões dos mapas de exames que ele vai tendo e que nos preocupam. Quando, para todos nós, os exames seriam em junho, o seu educando insiste e insiste que eles serão em dezembro. O que, não sendo uma estereotipia de valor clínico preocupante, parece revestir-se ou de uma teimosia que roça a insolência e a afronta, ou uma confusão de espaço e de tempo que, em muitas circunstâncias, é acompanhada por outras necessidades educativas especiais que, de forma abnegada, se bem que inconclusiva, temos vindo a avaliar.

 

Aliás, estranhamos que, em devido tempo, não nos tenha dado autorização para que o seu educando fosse encaminhado para uma avaliação psicológica, para a educação especial ou para um plano educativo individual, de que muito carece. Em primeiro lugar, porque estamos a falar de um aluno com idade muito próxima dos educandos do antigo ensino recorrente. Depois, porque se torna gritante a necessidade de uma intensa educação ecológica, já que a forma como ele se dedica às renas e as parece pretender transformar num objeto voador não identificado, nos sugere um quadro grave, onde biologia, física e mecânica se emaranham assustadoramente, de uma forma que não conseguimos descortinar. Finalmente, quando ele insiste em chamar-se Pai, de nome próprio, e, na ficha individual do aluno, não só coloca como freguesia de naturalidade o lugar do Natal e, por mais que seja terno e dedicado em relação a Si, deixe, no lugar do progenitor, um espaço em branco (que sugere ser filho de um pai incógnito), somos levados a vacilar entre apresentar o caso do seu educando a uma comissão de proteção de pessoas em perigo ou decretar a respetiva insanidade. Fossem outros os resultados que ele vai obtendo e assim já teríamos feito!

 

Dir-nos-á - e concordamos - que o seu educando é dado ao voluntariado. E que atos generosos, de dádiva, como esses, merecem apreço. É verdade. Todavia, esta escola tem responsabilidades sociais que nos levam a ter uma atenção muito dedicada aos rankings, e aos quadros de mérito e de excelência. E aí, não consta que estejam alunos amigos da risota, da cabeça nas nuvens, e que sejam geniais na fantasia e engasgados na matemática. Ressalve-se, a propósito desta até de conhecimento, que o seu educando conta, esplendorosamente, de forma regressiva, sobretudo quando se trata de saber quantos dias faltam para o Natal. No entanto, a obstinação que parece ter para com estes temas recomenda um alerta: como seria possível que entendêssemos a forma trapalhona como ele se imagina a fazer felizes as crianças, para mais, distribuindo presentes que caem por chaminés (quando, a bem da verdade, as residências portuguesas dispõem, cada vez mais, de recuperadores de calor e de exaustores)? Estará este lado fantasioso e sonhador em linha com o mundo tecnológico e inovador em que vivemos? Não poderemos estar, antes, em presença de um educando com o seu quê de mitómano, em nada adequado aos desafios que o futuro a todos nos traz?

 

Em virtude do exposto, dirigimo-nos a Si, na esperança de, já que parece estar em toda a parte, não deixe de nos dar o privilégio da sua presença nas reuniões de pais. Pedindo-lhe, denodadamente, que não destoe de muitos outros pais que, ao contrário do que diz por aí, não são pessoas que adoraram ir para a escola, que tiveram, sobretudo, professores bem-dispostos e brincalhões, e que não terão sido tão bons alunos ou, mesmo, tão exemplares como eles passam a vida a dizer. Como sabe, melhor que ninguém, e mesmo que isso possa ser um bocadinho verdade, há mentiras piedosas de pais que Deus não castiga e que, bem geridas, nos encaminham (a todos) no caminho da salvação.

 

No entanto, relembramos que neste período de Natal o seu educando tem uma quantidade apreciável de trabalhos de casa com os quais não deve deixar de cumprir. Estudar não tem de ser "o céu", como bem sabe. E é para este agrupamento escolar fonte de imensa preocupação a forma muito pessoal como ele insiste em resolver todos os problemas, pouco adequada às normas e às metas curriculares que todos temos a estrita obrigação de não questionar.

 

Seja como for, apelamos ao seu empenhamento para com as nossas preocupações. Não deixando de Lhe recomendar a melhor das atenções para com o seu educando que, embora destoe num conjunto de pequenos-nada (e isso dê, até, um ar picaresco à nossa escola), nos preocupa por poder sugerir uma vocação realmente inclusiva (que não devemos, nunca, levar tão à letra). Daquelas "vocações" onde, hoje, possam caber alunos que se vistam de vermelho e, mais tarde, outros alunos, mais inquietantes, que (independentemente da idade) sejam levados a acreditar - por mais que lhes expliquem que a Leopoldina é quem cuida das prendas e que a Lapónia não surge referenciada nas cartas geográficas como o país do Natal - que, realmente, o Pai Natal existe. E, pior, receamos que esse furor cresça e eles acabem todos por acreditar em personagens pouco credíveis - de ficção, mesmo - como o Pai Natal. Que lhes deem uma ideia facilitista de mundo, a ponto de serem levados a imaginar que os presentes, afinal, não são consumismo mas magia e amor.

 

Independentemente da sua confissão, permita que lhe deseje, em nome desta comunidade educativa, a Si e à Sua família, um Feliz Natal.

 

 Eduardo Sá

 

Texto retirado de : https://www.leyaeducacao.com/z_escola/i_246

 

A CULPA DOS PAIS

13-01-2016 12:57
 O psicólogo Eduardo Sá na minha perspetiva dá sempre um excelente contributo para a forma como vemos e lidamos com as crianças. Portanto resolvi publicar alguns artigos feitos por ele. Estes artigos foram encontrados em várias páginas da Internet que mencionarei no final porque poderão ter algum interesse para os leitores.
 
1. Ao longo dos tempos, foram sendo escritos inúmeros artigos sobre a responsabilidade que as mães teriam no comportamento dos seus filhos. Quer quando eles tinham dificuldade em comer, dificuldades em adormecer ou em dormir, como quando tinham crises asmáticas ou problemas do comportamento. Porque as mães pareciam ser responsabilizadas por tudo aquilo que parecia não estar bem com os seus filhos, passei a ironizar com esse jeito de "culpar as mães" (quase por tudo e por nada) dizendo que isso só seria possível porque, no entretanto, os pais (que as responsabilizavam), em vez de se implicarem na educação dos filhos iam escrevendo artigos sobre a importância delas nas dificuldades dos filhos. Ao mesmo tempo que fui tentando relativizar este lado de "a espada era a Lei", de muitos textos sobre as doenças psicológicas das crianças (fossem elas semelhantes a meras "constipações" como associadas a quadros muito, muito graves), não deixei de escutar, sempre que chamo a atenção para a forma como as crianças muito difíceis têm, quase sempre, a ver com pais em grandes dificuldades (dando a entender que as famílias estragam - involuntariamente mas, todavia, muitas vezes - as qualidades que criam nas crianças), como se fosse um slogan fácil e utilitário, que isso de "culpar os pais" não está certo.
 
Porque é que eu acho que muitos pais têm dificuldade de se pôr em causa? Porque apesar de reconhecerem os pequenos erros que vão "costurando" e que, depois de acumulados, criam as grandes dificuldades das crianças, lhes falta humildade. E, já agora, falta também um bocadinho de culpabilidade: aquela qualidade que, por vezes com exagero, nos leva a perguntar, sempre que somos "premiados" com algum acontecimento que nos magoa: "em que aspetos é que eu me sinto responsável nisto tudo?". São, justamente, estes pais que, sempre que alguém lhes fala de um presumível "defeito de fabrico" dos seus filhos se agarram a ele com as duas mãos, como se nessa conjetura encontrassem um álibi mais que perfeito para a imensa dificuldade de aceitarem que só quem erra é que aprende e que fugindo dos erros nunca se cresce.
 
2. Entretanto, as tendências explicativas (que funcionam como modas, infelizmente) têm mudado. E em vez de falarmos da importância das mães nas dificuldades dos filhos (com tudo o que isso tinha de injusto e de precipitado), entrou-se numa deriva (um bocadinho pateta) em que os genes passaram a "pagar a fatura" de problemas de comportamento, de dificuldades diante da organização da autoridade ou perante perturbações dos ritmos das crianças, fazendo dos pais muito mais vítimas do que eles são. Repito que alguns pais agradeceram esta "tendência" que começa a morrer aos bocadinhos. Mas, seja como for, talvez seja importante falarmos da culpa dos pais. Assim:
 
a) Tirando raríssimas exceções, os pais não são nem calculistas, nem premeditam as perturbações que os seus filhos vêm a desenvolver. Não têm, portanto, "a culpa" do que se passa com eles. Ou, se preferirem, não pende sobre eles a intenção de promover o seu sofrimento, ou de lhes causar dolo ou danos.
b) Os pais são responsáveis por (quase) tudo aquilo que os filhos conquistam. São responsáveis pela forma como as suas qualidades se expandem e se refinam e são responsáveis pelas dificuldades que eles vão desenvolvendo.
c) Serem responsáveis e serem culpados não significa a mesma coisa. Até porque a responsabilidade dos pais se dá, seguramente, movida por intenções de bondade, de proteção e de amor. E a presunção da culpa nos levaria a supor que, fosse o que fosse que eles seriam capazes de promover, se faria com indiferença diante do sofrimento cumulativo que iriam suscitando nos seus filhos.
d) A responsabilidade dos pais nos erros das crianças faz com que eles não deixem de ser boas pessoas. A sua culpa torna-os maus pais e más pessoas.
 
Mas vejamos, agora, onde entram os pais nalgumas dificuldades escolares dos seus filhos?
a) Será que a vontade dos pais diante dos bons resultados escolares é responsável por muitas más notas? É! Basta que queiram os filhos a aprender mais depressa, com menos erros e sem oscilação de resultados às mais diversas disciplinas e tudo isso é bom amigo das más notas.
b) Será que a intenção de os ajudarem muito - estudando com eles, estudando por eles ou exagerando nos tempos escolares, nas explicações ou nos centros de estudos - pode interferir na forma como os prejudica na relação com a escola? Pode! Basta que as crianças não aprendam a aprender, não aprendam a discorrer (em tempo real) diante da resolução de problemas de complexidade sempre crescente ou que não aprendam a errar, e os pais (movidos por alguma vaidade, que "equipa" todos os bons pais) têm a responsabilidade de dar à escola mais importância do que ela tem e de disfarçar as dificuldades das crianças imaginando-as com competências escolares com "cotação" muito acima do que elas valem.
c) Será que o desejo de lhes dar uma formação ampla e plural faz com que os pais exagerem nos tempos letivos, roubando tempo para os recreios, e tempo para as relações, para as experiências de vida, para as experiências de jogo e para as experiências de brincar e tudo isso torna os pais responsáveis pela delapidação de muitas competências indispensáveis para o crescimento saudável dos seus filhos? Sim! Por mais que estes "objetivos de curto prazo" comprometam o "longo prazo" e o "futuro"? Sim.
d) Será que, ao não lhes darem tempo para brincarem todos os dias (duas horas, pelo menos...), os pais contribuem para que os filhos se tornem mais "certinhos" e menos afoitos? Sim. E prejudica-os na escola? Claro!
e) Será que, ao resolverem demasiadas vezes problemas às crianças, os pais as ajudam a ser menos autónomas e menos expeditas, levando-as a exigir que o mundo lhes dê provas muito antes de elas conquistarem o seu respeito? Sim. E isso "engasga" os seus desempenhos escolares? Claro!
f) Será que ao pactuarem com trabalhos de casa absurdos, sobretudo se se considerar o tempo de trabalho diário das crianças, os pais são responsáveis pela forma como com eles se vai estragando o seu amor pelo conhecimento? Sim! E isso "conserta-se"? Com muitas dificuldades...
g) Será que tanta responsabilidade junta faz dos pais os verdadeiros culpados de tudo o que corre mal na vida das crianças, nomeadamente, daquilo que vai correndo mal nas escola? Não!
h) É claro que se os pais não são responsáveis por tudo aquilo que acontece aos seus filhos, têm sobre si a responsabilidade de "ler" o comportamento dos seus filhos e, de uma forma nem demasiado impulsiva nem "medricas" para além do razoável, os resgatarem das situações que os estão a magoar, para que um sofrimento episódico não se transforme numa dor "um bocadinho crónica". Sofrimentos episódicos não estragam as crianças. Mas as "dores crónicas" podem comprometer o seu desenvolvimento, se não forem revertidas e "costuradas" como deve ser.
i) E se os pais são responsáveis por muito daquilo que vai acontecendo aos seus filhos - porque não estão em todos os lados ao mesmo tempo, porque nem sempre são tão competentes (como eles desejariam) para interpretarem e contribuírem para resolver o que vai estando "desarrumado" com eles, e nem sempre conseguem solucionar (de forma discreta, rápida e eficaz) aquilo que os preocupa - eles são, também, os maiores responsáveis pelas qualidades dos filhos: pela sua sensibilidade educada, pela sua acutilância, pela garra e pela genica, e pelo caráter e pela beleza que eles não deixam de ter. Os pais só são responsáveis porque são pais!
j) Os pais saudáveis erram muitas vezes. E erram mais - é verdade - quanto mais erros tentam evitar. E erram mais, à medida que têm menos experiência como pais. E erram mais, quanto mais amam e menos ousam repreender. Os erros dos pais são quem melhor os educa. Pais que não erram nunca aprendem. Quanto mais erram mais os pais criam as oportunidades de se tornarem melhores pais!
 
3. Se os pais são tão indispensáveis e preciosos para o crescimento das crianças, quanto mais os ajudarmos a ser melhores pais, e mais comparticipamos nas suas responsabilidades, mais eles serão melhores pais. Estarmos atentos às responsabilidades dos pais não significa esticarmos o dedo em direção a eles como se nenhum de nós fosse capaz de se colocar no seu lugar e nos limitássemos a eleger a sua culpa, como se os seus erros fossem movidos pela premeditação.
 
Tudo isto ignora os pequenos "defeitos de fabrico" das crianças? Não! Mas recordo que as crianças têm uma plasticidade fantástica que compensa as dificuldades que eles poderiam suscitar. Sobretudo porque os pais, ao serem coerentes e constantes, e aos darem-lhes ritmos, rotinas e regras criam uma espécie de software cerebral que corrige essas presumíveis dificuldades. O que não é legítimo é que (como quando, dantes, se falava de "lesões cerebrais mínimas", que ninguém identificava, ou de "epidemias atípicas de dislexia", que levava muitíssimos professores a remeterem para elas as dificuldades escolares das crianças) hoje, todas as dificuldades das crianças sejam da responsabilidade dos genes. Como se a biologia, que ninguém explica, explicasse tudo. E se ilibasse, com isso, os pais e os professores da responsabilidade que têm nas dificuldades das crianças.
 
Ora, sempre que uma criança tem dificuldades escolares, a responsabilidade divide-se entre os pais, os professores e a escola. Sempre! E se tivermos a humildade de perceber onde cada um destes agentes comparticipa em cada dificuldade escolar de uma criança, mais nos poderemos ajudar uns aos outros. Já quando as crianças têm dificuldades ou insucesso escolar, ou quando constipam o português, a matemática ou a físico-química, ou quando estão (aparentemente) desatentas, não é legítimo que a responsabilidade pareça não ser nunca dos pais, dos professores ou da escola. Mas seja, unicamente, culpa delas! Ou, na melhor das hipóteses, dos presumíveis "defeitos de fabrico" que as "equipam". E aí, enquanto elas têm negativas, os pais, os professores e as escolas parecem ter classificações muito próximas daquelas que alguns profissionais conquistam quando são, corporativamente, avaliados pelos seus iguais. 
 
4. Sejamos, pois, claros: é feio fugir às responsabilidades. E, em função delas, aos erros. Sendo certo que sem erros as crianças não teriam oportunidades-extra (e, até, atípicas) que lhes dão problemas mais refinados para aprender melhor. Sendo assim, é mau que os pais se sintam responsáveis pelas dificuldades das crianças? Não! É lisonjeador. Porque nos diz o quanto sem os pais e sem os seus erros não há crescimento! Já baralhar responsabilidade e culpa é batotice. E só favorece os pais que, reconhecendo as suas responsabilidades em muitos aspetos menos adequados dos seus filhos, usam e abusam da noção de culpa (que eles, mais do que ninguém, atribuem a si próprios) como forma de se tornarem vítimas. Mas, muito poucas vezes, responsáveis. E, menos ainda, pais.
 
 

Porque é que as crianças inteligentes têm más notas?

13-01-2016 12:10

 

O psicólogo Eduardo Sá na minha perspetiva dá sempre um excelente contributo para a forma como vemos e lidamos com as crianças. Portanto resolvi publicar alguns artigos feitos por ele. Estes artigos foram encontrados em várias páginas da Internet que mencionarei no final porque poderão ter algum interesse para os leitores.
 
 

Estamos mesmo a chegar ao final do primeiro período. E com a conclusão das aulas vêm aí as primeiras notas. Estão, portanto, a chegar algumas reuniões de pais com os professores e uma ou outra má notícia acerca da avaliação final de alguns alunos. Virá aí, para muitos deles, uma ou outra negativa. Evidentemente que a primeira tentação de todos os pais, numa circunstância como essa, é concluírem que os filhos terão sido "preguiçosos". Havendo alguns que, numa decisão impulsiva, irão decidir castigá-los. Ora, obrigando-os a deixar o futebol, por exemplo. Ora levando até ao fim a decisão de os privar de prendas no Natal. Será isso razoável?

 
Comecemos pelo princípio: porque é que crianças inteligentes têm más notas? Porque são inteligentes! Eu sei que a resposta pode parecer um desaforo. Mas é verdade. Acreditem que não estou enganado: a tentação de falar de dificuldades cognitivas ou de "deficiência mental", a propósito das crianças, merece uma imensa ponderação. Mas, vamos por partes.
 
Não há crianças "burras"! Eu sei que há termos ásperos, como este, para todos nós. Mas é importante que sejamos claros: tirando raríssimas exceções, de crianças com quadros genéticos ou neurológicos muito graves (e que são, realmente, raríssimas!) não há crianças que nasçam "burras" como, desde sempre, se foi imaginando ou formulando. Recordo que algumas das crianças consideradas assim, que viveram a escola de forma penosa, com resultados catastróficos e com experiências humanas humilhantes, se transformaram em grandes empreendedores, grandes empresários e pessoas cuja singularidade trouxe, realmente, mais-valias ao mundo.
 
Mas, sendo assim, quem transforma crianças inteligentes em maus alunos? De certa forma, todos nós. É claro que, para os resultados de uma criança na escola, faz diferença que ela tenha tido - pelo menos, até entrar no primeiro ano de escolaridade - uma família minimamente equilibrada. Porquê? Porque todas as crianças nascem altamente sensíveis, atentas, intuitivas e inteligentes, a grande dificuldade dos pais passa por se adequarem a essa "esponja" habilitadíssima para os recursos cognitivos (é assim que muitos definem a forma como elas "absorvem" conhecimentos e os multiplicam através de operações mentais que as parecem tornar a todas "matemáticos de fraldas", não é?). Trata-se de adequar às crianças um conjunto de rotinas que façam com que os seus ritmos (de sono ou de alimentação, por exemplo) não se desorganizem, ligando-as a regras que as façam conjugar aquilo que elas desejam e o que os pais consideram desejável. Mas, para além de regras, rotinas e ritmos, as crianças necessitam da sabedoria dos pais. Porquê? Porque, quando as crianças leem o mundo à sua volta, elas têm uma espécie de "instinto de adivinhar" que faz com, em tempo real, intuam de forma fulgurante aquilo que se passa, por mais que uma imagem que fique de uma experiência como essa possa levar trinta anos, por exemplo, a ter a "legenda" apropriada. Isto é: as "legendas" que os pais colocam naquilo que elas intuem servem para as crianças atribuírem palavras àquilo que veem, serve para lhes dar um significado, servem para que elas saibam discernir as operações mentais que as levem a resolver os problemas que a vida sempre lhes traz e servem, sobretudo, para que elas vão aprendendo "coisas" mais complexas e as atinjam de uma forma mais simples, mais rápida e mais eficaz. Como se compreende, quando os pais, na ânsia que elas cresçam mais depressa do que deviam ou esperando que as crianças se adequem a exigências de "agenda" que não são as suas (pensar e aprender exige tempo, tentativas, erros e uma dose generosa de experimentação "autodidática") não respeitam os seus ritmos, não enquadram os seus ímpetos, não lhes dão um perímetro de segurança esclarecido para aquilo que podem e não podem fazer. Para além do mais, trazem-nas para burburinhos ou conflitos que as magoam - para além de as baralharem ao colocarem "legendas" um bocadinho "ao lado", considerando aquilo que elas já perceberam - e contribuem muito (contra a sua vontade, sem dúvida) para os maus resultados escolares das crianças. Porquê? Porque a escola é uma espécie de enciclopédia que vai multiplicar os conhecimentos que a própria família já de si gerou. E chegar lá com "as ideias fora do lugar" é meio caminho andado para que tudo o que podia ser simples se transforme numa "confusão".
 
Para os bons resultados escolares de uma criança faz, também, diferença que ela tenha uma educação infantil sensata, pouco apressada e pouca dada à vaidade de conhecimentos que se repetem sem que se perceba como eles funcionam. É claro que se a ausência de educação infantil pode trazer limitações cognitivas a uma criança, uma má educação infantil não deixará de lhe trazer constrangimentos. Sendo curial que se pergunte o que poderá ser um má educação infantil? Aquela que coloca os desempenhos de curto prazo à frente de aprendizagens centradas em áreas de conhecimento que contribuam para que os recursos das crianças se transformem, progressivamente, em aptidões para ligarem palavra, aptidões abstratas, sentimentos e expressividade, autonomia e solidariedade, capacidade lúdica e tolerância à frustração. Escusado será dizer que sobrepor conhecimentos às operações mentais que as crianças ainda não agilizaram, e submetê-las aos ritmos e aos objetivos dos pais e dos colégios (independentemente das distorções de médio e longo prazo que isso traz à versatilidade da sua aprendizagem) é, a médio prazo, amiga das más notas. 
 
Depois, há as escolas, propriamente ditas. E aqui tudo se complica mais. Porque embora haja uma política educativa, ela parece carecer, em muitas circunstâncias, de robustez, de coerência e, sobretudo, de uma ideia do que se pretende para a aprendizagem dos alunos. Não se trata de fazer "cruzadas" contra os critérios de avaliação (nem isso seria sensato), nem de eleger as provas de aferição e os exames como "alvos a abater". Mas trata-se de não nos ficarmos, unicamente, na discussão sobre esses aspetos quando se trata de transformar a educação. Sem perguntarmos o que queremos em cada momento formativo, de ponderarmos se aquilo que se exige das crianças terá em termos de objetivos, de forma e de conteúdos a metodologia correta (que se irá refletir "no fim da linha"). Como se já não bastasse a ideia de que um pacto de regime acerca da educação nunca ter merecido uma oportunidade política ser inquietante, a construção das turmas, o casamento das disciplinas, a ligação que elas não têm (muitas vezes) com a vida das crianças, ou a interseção entre o lúdico, o expressivo e o aprendido que não se estimula faz com que se torne fácil que a escola estimule as más notas.
 
E, finalmente, há os professores. Que são preciosos, claro, mas que nem sempre têm a formação indispensável, os recursos exigíveis, a retaguarda de técnicos que os apoiem e protejam, ou os conhecimentos tão agilizados dentro de si que transformem um programa numa tarefa apetitosa para todos os alunos. E que têm vida própria mas que nem sempre são acolhidos por uma escola com o carinho e o respeito que a sua tarefa exige. E que têm com o ensino uma paixão quase difícil de se entender mas, ao mesmo tempo, a vão sentindo a burocratizar-se todos os dias, mesmo quando têm diante de si turmas difíceis e exigentes e pais que os desconsideram, por vezes, mais do que deviam. Isto é, nem sempre os professores são - ao contrário do que, seguramente, seria o seu anseio - os melhores amigos das boas notas.
 
É fácil, portanto, uma criança "tirar" más notas! Porque há sempre um ou vários destes incidentes que se emaranham, num momento qualquer, no seu percurso educativo. Por mais que todas as crianças sejam, de forma ardente e continuada, as melhores amigas dos bons resultados. Tanto assim é que, sempre que eles não surgem, e os pais, os professores, os explicadores e os avós se unem no sentido de as ajudar a pensar - todos de forma diferente a congeminar sobre uma mesma disciplina - se os maus resultados perduram as crianças baixam os braços. Ou ficam, aparentemente, "burras" de tanto terem medo de não saber, que erram diante de problemas que elas, efetivamente, dominam. Ou desistem e desinvestem, que é uma forma de terem a ilusão de saírem vitoriosas de um confronto onde, geralmente, acabam a perder. Ou "deixam-se andar", parecendo preguiçosas (ou numa versão mais urbana: parecendo desmotivadas), que é uma forma de desistirem antes de declararem qualquer desistência. Ou foram acumulando "défices" de conhecimentos ou de raciocínio a algumas áreas e, como a aprendizagem é um longo "puzzle", chega a uma altura em que não se torna possível contornar por mais tempo essas dificuldades. Ou "encasquetam" que não aptas para algumas disciplinas por mais que sejam muitíssimo capazes noutras, como se fosse possível ser inteligente e "burro" ao mesmo tempo. Ou estão a viver uma relação difícil com um professor ou com a escola e tudo se complica. Não se pense, no entanto, que as crianças são, unicamente, "vítimas". Não são. Mas não serão, seguramente, as únicas responsáveis pelos seus maus resultados escolares. Só que, chegados ao Natal, e a existirem más notas, elas são "só" suas. Quase todos - pais e professores, à cabeça - reagem como se se sentissem um bocadinho traídos por cada negativa manifestando, até, alguma estranheza pelos maus resultados e castigando-as a elas, unicamente. Como se as notas de uma criança não representassem um percurso de um longo trabalho de equipa onde elas não mandam tanto como as suas notas fazem parecer.
 
Qual será, então, a vantagem de descobrirmos parecerias em cada uma das suas notas? Não tanto o de nos sentirmos levados a estudarmos com elas ou estudarmos por elas, mas percebermos que nem sempre ajudamos as crianças a aprender a aprender. Apesar de isso ser o que elas mais querem e aquilo para o que estão, inequivocamente, mais capacitadas. Terão elas, porventura, mais dificuldades de aprender do que os adultos que as ensinam? Não! Seguramente. Sendo assim, trata-se de aprendermos com erros, percebermos aquilo que estará a gerar as nossas dificuldades e, todos juntos, passarmos das necessidades educativas especiais ao sucesso (que será, ele também, sempre o resultado de um trabalho de equipa). 
 
Em resumo: uma nota negativa existe porque os pais foram complicando a relação com a escola ao contrário das suas genuínas intenções. Porque o "sistema" precisaria de um plano individual de recuperação para deixar de querer positivas, sem olhar a meios, em vez de perceber que uma negativa (ou muitas negativas, a determinadas áreas de aprendizagem, por exemplo) são interpelações que o colocam, verticalmente, em causa. Porque as escolas foram insistindo, teimosamente, em normalizar crianças quando as deviam singularizar. E porque alguns professores vão tendo muitas dificuldades para ensinar e para tornarem claros e apelativos, para todos, os conhecimentos que pretendiam partilhar. No final da cadeia, as crianças só não têm mais sucesso porque - às vezes, por azar - foram tendo pais, escolas e professores que, mal começaram a desenhar-se as primeiras dificuldades escolares, lhes atribuíram a elas - e, sobretudo, a elas - "a parte de leão" dessa má notícia. Quando, na verdade, cada "negativa" pressupõe várias "negativas". Sendo assim, porque é que os menos responsáveis pelas "negativas" são repreendidos, advertidos e castigados e os outros todos... não?... Chegados aqui, ou temos todos presentes ou ficamos, durante o Natal, todos de castigo. Imaginando que adivinhe a vossa decisão, desejo-vos a todos muitas prendas. E um Bom Natal!
 
 
 
 

 

NEUROCIÊNCIA EM BENEFICIO DA EDUCAÇÃO - Educação no Séc. XXI

18-08-2015 18:32

Este site tem artigos muito interessantes para pais e professores, vale a pena visitá-lo.

https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.pt/

Aborda temas como:

 

  • Neurociências e os 4 pilares da educação propostos para o século XXI

 

https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.pt/2015/03/neurociencias-e-os-4-pilares-da.html

 

  • Contribuições da Neurociência para a Formação de Professores

 

https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.pt/2012/09/contribuicoes-da-neurociencia-para.html

 

  • Neurociência dos seis primeiros anos-implicações educacionais.

 

https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/08/neurociencia-dos-seis-primeiros-anos.html

 

  • Autodidatismo amigável ao cérebro: três pilares

 

https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.pt/2013/02/autodidatismo-amigavel-ao-cerebro-tres.html

 

Entre muitos outros.

Teste vocacional: descubra as carreiras que têm mais a ver com você

31-10-2014 10:57

Teste vocacional: descubra as carreiras que têm mais a ver com você

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

Desafio aos pais:

08-09-2014 16:41

Desafio aos pais:

https://prezi.com/d7wmr0ackx6v/?utm_campaign=share&utm_medium=copy&rc=ex0share

 

 

Discalculia

08-09-2014 16:19

Sabe que existe uma Associação Portuguesa de Pessoas com Dificuldades de Aprendizagem Especificas? 

Existe também o núcleo da Discalculia em Portugal.

A Discalculia é um transtorno adquirido da habilidade para realizar operações matemáticas.

Pretende saber mais?

Veja estes links: 

Núcleo da Discalculia

https://www.nucleodadiscalculia.com/WPress/dificuldades-na-aritmetica-%E2%80%93-discalculia/

Cuf (explica muito bem de que se trata)

https://www.saudecuf.pt/sintra/mais-saude/doencas-a-z/discalculia

 
APPDAE (Associação Portuguesa de Pessoas com Dificuldades de Aprendizagem Especificas)
 
 
 

 

 

Superprotecção Parental, Efeitos no Desenvolvimento da Criança e do Adolescente

12-02-2014 14:52

Numa sociedade onde as crianças e os adolescentes são tão importantes, onde ficam os nossos limites? 

Link 1 : https://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=40567&op=all

Link 2 : https://www.galois.com.br/artigos-fundamental/39-pra-quem-educa/300-pais-superprotetores-as-consequencias-para-a-vida-das-criancas

 

Desatentos ou desatendidos?

31-01-2014 19:14

Há crianças e adolescentes desatentos ou estão desatendidos como seres humanos em desenvolvimento, com necessidade de atenção, olhar tranquilo e tempo disponível por parte dos adultos?

 

www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=27952

Diferença entre deficit de atenção e distracção

09-01-2014 16:12

Video : https://globotv.globo.com/rede-globo/bem-estar/v/entenda-a-diferenca-entre-deficit-de-atencao-e-distracao/3062095/

 

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